28/10/2009

Meio-fio

Já era tarde quando a noite tão displicente mostrou sua verdadeira intenção. Justo quando sua disposição de espírito beirava o cansaço, ele apareceu. Assim como todos os anjos, que insistem em cuidá-la. Era tarde, eles não se importaram. Sentados na calçada de uma rua pacata, com poucos cigarros e nenhum conhaque compartilharam a solidão em sua melhor forma, á dois.
Idéias comuns a duas pessoas tão distintas. O amor é linguagem universal e não seria diferente entre dois incuráveis românticos. Sempre buscando a verdade.
Falaram sobre Huxley e seus romances cerebrais. “-Mescalina!” Quis citar sua parte preferida, não foi preciso, ele também sabia de cor. Discutiram Nietzsche e indagaram Cronópios. Conversaram futilidades e sem que percebessem deixaram confissões escapar entre as idéias. Ele gostava das palavras desenhadas, ela, das escritas... Contudo falavam e entendiam-se perfeitamente.
Criticaram formas de conduta, admiraram padrões de comportamento. Efemeridades! Riram sem vergonha!E quando ela entristeceu lembrando-se do moço que havia partido com todo desamor, ele elucidou as divergentes formas de amor.
Era primavera e flores cor de violeta cobriam o chão que aqueles inofensivos pés insistiam em descansar. Estavam ali sentadas duas almas empáticas, na calçada de uma rua serena, desfrutando das singularidades que a vida proporciona ao nascer do sol.
Ele ofereceu um café, mas já era hora de ir. Agradeceram a companhia um do outro e partiram. Ela sorriu em paz e sentiu-se forte novamente.