05/08/2010

Madrugada fria

Tinha o olhar triste, mãos frias e um sentimento quase infantil de derrota. 
Voltava para casa, novamente, descrente no amor.
Amanhã terá que recomeçar tudo aquilo que perdera a graça antes de conhecê-la.
Imaginava quantas vezes mais, aqueles passos vazios seriam dados. 
Quantas noites seus amigos ainda teriam que tirá-lo de casa para uma bebida qualquer, preocupados com seu estado.
Preocupava-se mais em não aborrecer aqueles que já andavam de mãos dadas. 
Definitivamente estava fatigado do fracasso. 
Não deveria contaminar o mundo com seu desprezo e incapacidade.
As palavras da amada estavam sufocadas em sua garganta e sentiu nojo, dessas mesmas mãos que o acariciaram depois do fim.
Gostaria de caminhar a noite toda para que sua mente, com pouco oxigênio, não refletisse e nem se deixasse enganar por uma esperança qualquer, inutilmente captada em seus últimos momentos de desespero.
Que apenas a dor física fosse presente. 
Que surgissem feridas em seus pés e que, banhados de sangue, essa fosse sua única preocupação ao chegar em casa.
Mas sabia que essa seria a primeira, de muitas outras noites tempestuosas que viriam. 
Que a angústia acompanharia cada pensamento e que a esperança estaria ali, sempre brincando com seu desespero.
Não iria procurá-la. 
Não hoje.
Não amanhã.
Quem sabe, nunca mais. 
E sofria ainda mais pela desistência. 
Não tornaria mais a ver com ternura aqueles olhos que lhe deram vida. 
Não tocaria mais com todo seu entusiasmo aquele corpo e, esqueceria em breve o seu perfume.
Como gostaria que a tolice ainda dominasse suas idéias. 
Que a humilhação e o sofrimento ainda fossem virtudes. 
O desprezo o faz menor. 
Um fragmento do que idealiza.
Quer respostas claras. 
Cansou-se do jogo do amor. 
A racionalidade das ações se tornava uma aliada, mas conseguia ser enganada pela dúvida, pela negação de algo que não compreende.
Exausto seu corpo tocou a cama vazia. 
Não houveram lágrimas, nem orações, apenas um temor pelo amanhã e por estar tão próximo de sentimentos os quais vem evitado.

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