Procurava entre os livros da estante algo que a distraísse. Caminhava pela casa e a única coisa que podia sentir era o macio dos tapetes. Seus pensamentos voavam sem destino certo e como que sem propósito voltavam a origem, sem nada revelar.
Pegou outra xícara de café e sentou em sua poltrona. Há tempos não se sentava lá. Havia esquecido a vista daquele ponto da casa. A janela não revelara nada diferente da televisão, porém era mais agradável assistir o mundo real. Trazia-lhe uma fúnebre esperança.
O café estava amargo, mais do que de costume. A quase impaciência a desfez da costumeira preguiça e lá estava ela pisando entre os tapetes, sem se concentrar em nada além do açúcar.
Voltou a poltrona, o doce quase que vagamente lhe trouxe os pensamentos. O dia havia sido tão complexo e ela atônica a tudo aquilo. Como poderia ela ter chegado até aquela poltrona, que decisões teria tomado para estar exatamente ali, naquele momento.
Não sabia dizer se estava feliz, temeu então as novas decisões. Onde estaria exatamente daqui a dois anos. O que as outras pessoas, de caminhos tão diferentes, estariam fazendo naquele exato momento? O que as pessoas felizes fazem?
E mais uma vez os aforismos iam e perdiam-se entre as paredes. Ela estava cercada por muros. Os quais foram construídos com tijolos da preservação e agora a deixavam isolada. Sozinha em sua própria inércia, na agonia da falta de companhia, no aconchego do sossego, na incredibilidade do tempo.
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