16/08/2010

Feelings

Ela sempre gostou que ele a acompanhasse até o carro e não se sentia envergonhada em solicitar tal companhia esta noite.
Notou que todos ao redor os olhavam, esperando ansiosamente o novo assunto para ocuparem as conversas por uma hora ou mais. Alguns olhares revelavam certa preocupação, outros desprezo e posso dizer, que entre todos aqueles, ele notou até mesmo, um que parecia lançar inveja.
Sim, eles eram um caso complicado! Daqueles que nem mesmo as telenovelas seriam capazes de ensaiar.
 Não é tão fácil quanto parece entender o que se passa entre os corações e muito menos a maneira única e desajeitada que aqueles dois tinham para expressar esses sentimentos. Mas esta noite estavam felizes.
Digo isso, porque notei a familiaridade daqueles corpos postados lado a lado. 
Um ou outro contato, por vezes, poderia demonstrar certo interesse físico, mas as vozes no mesmo tom indicavam perfeita harmonia.
E o sossego no silêncio... Não eram necessárias palavras, nem explicações. As histórias do longo tempo em que se separaram não fariam o menor sentido. Estava tudo bem e eles sabiam disso. Estavam perto um do outro, mais uma vez, em uma noite fria, conversando e ignorando qualquer crítica àquela situação.
Despediram-se com um longo abraço. Notei que ela o segurou com um pouco mais de força em sua primeira tentativa de deixá-la ir. Talvez temesse tal contato.
Beijou seu rosto com ternura e esperou que partisse.
Creio que tal cena já deve ter sido suficientemente longa aos telespectadores que acompanhavam esse romance. E agora ele teria o resto da noite para divagar sobre o assunto, ou apenas calar-se novamente, formando traços de preocupação naqueles que esperam sempre a tragédia.
Mas não é sobre isso que gostaria de falar agora, pois se tivessem visto o sorriso daquela moça ao deixá-lo, entenderiam todo o significado daquelas almas, quase consangüíneas, teimarem a se reencontrar e, como qualquer explicação pareceria infundada e sem sentido.
O rádio tocava sucessos dos anos dourados e a estrada quase vazia, montou o cenário perfeito, como num filme sem fim...
"Feelings
Feelings
Like I've never lost you
And feelings
Like I've never have you
Again in my heart"

Ela sorria, com satisfação. Sentia o amor invadir cada parte de seu corpo. Sentia-se livre para amá-lo, por toda vida se fosse possível, mesmo sem nunca mais reecontrá-lo, se fosse o caso. Mesmo que o destino os quisesse separados, poderia amá-lo, em uma incondicionalidade irracional.
Ria-se por dentro, com a voz suave de Morris Albert cantando sentimentos confusos sobre uma história de amor.
Poderia dançar agora, sob as estrelas e as luzes da cidade. Deixou a música misturar-se com tudo o que sentia e afastou qualquer pensamento que pudesse descontinuar aquele momento.

O amor é mesmo a mais deliciosa incógnita a ser descoberta durante a vida!



"Feelings,
Nothing more than feelings"



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